Apresentação
As revoltas estudantis desenvolvidas em vários países ocidentais, a contracultura, a luta pelos direitos civis de ?minorias sexuais?, os movimentos revolucionários e de independência política nos países americanos, africanos e asiáticos e, sobretudo, as críticas do movimento feminista à estrutura patriarcal e ao sujeito universal, na década de 1960, abriram caminhos ao surgimento de novos sujeitos sociais e políticos no chamado século sangrento e século da emancipação das mulheres, como afirmou o historiador Eric Hobsbawm. Integrado no intenso debate promovido pelo movimento feminista, o conceito de ?gênero? se disseminou rapidamente entre os campos de produção de conhecimento na segunda metade do século XX. Esse movimento esteve inserido em um momento de alterações substanciais nas Ciências e, por sua vez, elas não estavam ausentes dos debates políticos que envolviam o contexto de pós-guerras e dos movimentos sociais emergentes em inúmeras partes do mundo. Ao ponderar o sexo como um feito a esclarecer, em vez de fator, por si explicativo, o conceito de gênero corresponde ao propósito de colocar as diferenças entre os sexos na agenda de investigações acadêmicas e de elaboração de marcadores para as políticas públicas, retirando os corpos do domínio da biologia e orientando suas análises às condições históricas e sociais de produção de cultura.
As mulheres (lésbicas, trans, bissexuais e heterossexuais), os gays e outros grupos cujas sexualidades se definem em ?oposição? à hetero-normas foram os primeiros em problematizar as diferenças de gênero. Esses segmentos sociais têm sido os precursores a explorar a política da sexualidade ou a sexualidade como política. Ao apresentar os questionamentos aos juízos mais elementares sobre o sexo, o gênero e a sexualidade, incluídas as oposições heterossexual/homossexual, sexo biológico/gênero e homem/mulher, estes coletivos de sujeitos desenvolveram novas formas de examinar o tema da identidade e, por sua vez, esta situação se reflete nas políticas e modos de vida na sociedade.
Neste sentido, o XII Colóquio Nacional Representações de Gênero e de Sexualidades discutirá, este ano, as perspectivas epistemológicas de gênero e sexualidades na produção do conhecimento. Seu objetivo é situar os/as participantes do Colóquio quanto às transformações pelas quais sujeitos e esferas sociais têm passado e tornado as pessoas mais conscientes de si e das demais com quem compartilham espaços, posições e afetos.